terça-feira, 21 de abril de 2009

Texto dissertativo-argumentativo

Dissertar é o mesmo que desenvolver ou explicar um assunto, discorrer sobre ele. Assim, o texto dissertativo pertence ao grupo dos textos expositivos, juntamente com o texto de apresentação científica, o relatório, o texto didático, o artigo enciclopédico. Em princípio, o texto dissertativo não está preocupado com a persuasão e sim, com a transmissão de conhecimento, sendo, portanto, um texto informativo.
Os textos argumentativos, ao contrário, têm por finalidade principal persuadir o leitor sobre o ponto de vista do autor a respeito do assunto. Quando o texto, além de explicar, também persuade o interlocutor e modifica seu comportamento, temos um texto dissertativo-argumentativo.
O texto dissertativo argumentativo tem uma estrutura convencional, formada por três partes essenciais.
Introdução
Que apresenta o assunto e o posicionamento do autor. Ao se posicionar, o autor formula uma tese ou a idéia principal do texto.
Desenvolvimento
Formado pelos parágrafos que fundamentam a tese. Normalmente, em cada parágrafo, é apresentado e desenvolvido um argumento. Cada um deles pode estabelecer relações de causa e efeito ou comparações entre situações, épocas e lugares diferentes, pode também se apoiar em depoimentos ou citações de pessoas especializadas no assunto abordado, em dados estatísticos, pesquisas, alusões históricas.
Conclusão
Que geralmente retoma a tese, sintetizando as idéias gerais do texto ou propondo soluções para o problema discutido. Mais raramente, a conclusão pode vir na forma de interrogação ou representada por um elemento-surpresa. No caso da interrogação, ela é meramente retórica e deve já ter sido respondida pelo texto. O elemento surpresa consiste quase sempre em uma citação científica, filosófica ou literária, em uma formulação irônica ou em uma idéia reveladora que surpreenda o leitor e, ao mesmo tempo, dê novos significados ao texto.
Atenção: a linguagem do texto dissertativo-argumentativo costuma ser impessoal, objetiva e denotativa. Mais raramente, entretanto, há a combinação da objetividade com recursos poéticos, como metáforas e alegorias. Predominam formas verbais no presente do indicativo e emprega-se o padrão culto e formal da língua.
O Parágrafo
Além da estrutura global do texto dissertativo-argumentativo, é importante conhecer a estrutura de uma de suas unidades básicas: o parágrafo.
Parágrafo é uma unidade de texto organizada em torno de uma idéia-núcleo, que é desenvolvida por idéias secundárias. O parágrafo pode ser formado por uma ou mais frases, sendo seu tamanho variável. No texto dissertativo-argumentativo, os parágrafos devem estar todos relacionados com a tese ou idéia principal do texto, geralmente apresentada na introdução.
Embora existam diferentes formas de organização de parágrafos, os textos dissertativo-argumentativos e alguns gêneros jornalísticos apresentam uma estrutura-padrão. Essa estrutura consiste em três partes: a idéia-núcleo, as idéias secundárias (que desenvolvem a idéia-núcleo), a conclusão. Em parágrafos curtos, é raro haver conclusão.
A seguir, apresentarei um espelho de correção de redação. A faixa de valores dos itens analisados sofre alteração a cada concurso, os aspectos macroestruturais e microestruturais são variáveis na maneira como são expostos. No entanto, os espelhos não fogem ao padrão pré-determinado.

ESTRUTURA TEXTUAL DISSERTATIVA

1. Bases Conceituais

PARTE I – O conteúdo da redação

a) Apresentação Textual

Legibilidade e erro: escreva sempre com letra legível. Prefira a letra cursiva. A letra de imprensa poderá ser usada desde que se distinga bem as iniciais maiúsculas e minúsculas. No caso de erro, risque com um traço simples, o trecho ou o sinal gráfico e escreva o respectivo substituto.

Atenção: não use parênteses para esse fim.

- Respeito às margens e indicação dos parágrafos;

Para dar início aos parágrafos, o espaço de mais ou menos dois centímetros é suficiente. Observe as margens esquerda e direita na folha para o texto definitivo. Não crie outras. Não deixe “buracos” no texto. Na translineação, obedeça às regras de divisão silábica.

- Limite máximo de linhas;

Além de escrever seu texto em local devido (folha definitiva), respeite o limite máximo de linhas destinadas a cada parte da prova, conforme orientação da banca. As linhas que ultrapassarem o limite máximo serão desconsideradas ou qualquer texto que ultrapassar a extensão máxima será totalmente desconsiderado.

-Eliminação do candidato;

Seu texto poderá ser desconsiderado nas seguintes situações:
- ultrapassagem do limite máximo de linhas.
- ausência de texto: quando o candidato não faz seu texto na FOLHA PARA O TEXTO DEFINITIVO.

- fuga total ao tema: analise cuidadosamente a proposta apresentada. Estruture seu texto em conformidade com as orientações explicitadas no caderno da prova discursiva.
- registros indevidos: anotações do tipo “fim” , “the end”, “O senhor é meu pastor, nada me faltará” ou recados ao examinador, rubricas e desenhos.

b) Estrutura Textual Dissertativa

Não dê título ao texto, começa na linha 1 da folha definitiva o seu parágrafo de introdução.

Estrutura clássica do texto dissertativo

b.1) Introdução adequada ao tema / posicionamento

Apresenta a idéia que vai ser discutida, a tese a ser defendida. Cabe à introdução situar o leitor a respeito da postura ideológica de quem o redige acerca de determinado assunto. Deve conter a tese e as generalidades que serão aprofundadas ao longo do desenvolvimento do texto. O importante é que a sua introdução seja completa e esteja em consonância com os critérios de paragrafação. Não misture idéias.

b.2) Desenvolvimento

Apresenta cada um dos argumentos ordenadamente, analisando detidamente as idéias e exemplificando de maneira rica e suficiente o pensamento. Nele, organizamos o pensamento em favor da tese. Cada parágrafo (e o texto) pode ser organizado de diferentes maneiras:
- Estabelecimento das relações de causa e efeito: motivos, razões, fundamentos, alicerces, os porquês/ conseqüências, efeitos, repercussões, reflexos;
- Estabelecimento de comparações e contrastes: diferenças e semelhanças entre elementos – de um lado, de outro lado,em contraste, ao contrário;
- Enumerações e exemplificações: indicação de fatores, funções ou elementos que esclarecem ou reforçam uma afirmação.

b.3) Fechamento do texto de forma coerente

Retoma ou reafirma todas as idéias apresentadas e discutidas no desenvolvimento, tomando uma posição acerca do problema, da tese. É também um momento de expansão, desde que se mantenha uma conexão lógica entre as idéias.

c) Desenvolvimento do Tema

c.1) Estabelecimento de conexões lógicas entre os argumentos.

Apresentação dos argumentos de forma ordenada, com análise detida das idéias e exemplificação de maneira rica e suficiente do pensamento. Para garantir as devidas conexões entre períodos, parágrafos e argumentos, empregar os elementos responsáveis pela coerência e unicidade, tais como operadores de sequenciação,conectores, pronomes. Procurar garantir a unidade temática.

c.2) Objetividade de argumentação frente ao tema / posicionamento

O texto precisa ser articulado com base nas informações essenciais que desenvolverão o tema proposto. Dispensar as idéias excessivas e periféricas. Planejar previamente a redação definindo antecipadamente o que deve ser feito. Recorrer ao banco de idéias é um passo importante. Listar as idéias que lhe vier à cabeça sobre o tema.. Estabelecer a tese que será defendida. Selecionar cuidadosamente entre as idéias listadas, aquelas que delimitarão o tema e defenderão o seu posicionamento.

c.3) Estabelecimento de uma progressividade textual em relação à seqüência lógica do pensamento.

O texto deve apresentar coerência seqüencial satisfatória. Quando se proceder à seleção dos argumentos no banco de idéias, deve-se classificá-los segundo a força para convencer o leitor, partindo dos menos fortes parta os mais fortes.
È possível (e bem mais tranqüilo) desenvolver um texto dissertativo a partir da elaboração de esquemas. Por mais simples que lhes pareça, a redação elaborada a partir de esquema permite-lhes desenvolver o texto com seqüência lógica, de acordo com os critérios exigidos no comando da questão (número de linhas, por exemplo).


Procedimentos Básicos

01. Interpretação do tema

Devemos interpretar cuidadosamente o tema proposto, pois a fuga total a este implica zerar a prova de redação;

02. Levantamento de idéias

A melhor maneira de levantar idéias sobre o tema é a auto-indagação;

03. Construção do rascunho

Construa o rascunho sem se preocupar com a forma. Priorize, nesta etapa, o conteúdo;

04. Pequeno intervalo

Suspenda a atividade redacional por alguns instantes e ocupe-se com outras provas, para que possa desviar um pouco a atenção do texto; evitando, assim, que determinados erros passem despercebidos;

05. Revisão e acabamento

Faça uma cuidadosa revisão do rascunho e as devidas correções;

06. Versão definitiva

Agora passe a limpo para a versão definitiva, com calma e muito cuidado!

07. Elaboração do título

O título deve ser urna frase curta condizente com a essência do tema.

Orientação para Elaborar uma Dissertação
Seu texto deve apresentar tese, desenvolvimento (exposição/argumentação) e conclusão.
  • Não se inclua na redação, não cite fatos de sua vida particular, nem utilize o ainda na 1ª pessoa do plural.
  • Seu texto pode ser expositivo ou argumentativo (ou ainda expositivo e argumentativo).
  • As idéias-núcleo devem ser bem desenvolvidas, bem fundamentadas.
  • Redija na 1ª pessoa do singular ou do plural, ou fundamentadas.
  • Evite que seu texto expositivo ou argumentativo seja urna seqüência de afirmações vagas, sem justificativa, evidências ou exemplificação..
  • Atente para as expressões vagas ou significado amplo e sua adequada contextualização. Ex.: conceitos como “certo”, “errado”, “democracia”, “justiça”, “liberdade”, “felicidade” etc.
  • Evite expressões como “belo”, “bom”, “mau”, “incrível”, “péssimo”, “triste”,“pobre”, “rico” etc.; são juízos de valor sem carga informativa, imprecisos esubjetivos.
  • Fuja do lugar-comum, frases feitas e expressões cristalizadas: “a pureza das crianças”, “a sabedoria dos velhos”. A palavra “coisa”, gírias e vícios da linguagem oral devem ser evitados, bem como o uso de “etc.” e as abreviações.
  • Não se usam entre aspas palavras estrangeiras com correspondência na língua portuguesa: hippie, status, dark, punk, laser, chips etc.
  • Não construa frases embromatórias.
  • Verifique se as palavras empregadas são fundamentais e informativas.
  • Observe se não há repetição de idéias, falta de clareza, construções sem nexo (conjunções mal empregadas), falta de concatenação de idéias nas frases e nos parágrafos entre si, divagação ou fuga ao tema proposto.
  • Caso você tenha feito uma pergunta na tese ou no corpo do texto, verifique se a argumentação responde à pergunta. Se você eventualmente encerrar o texto com uma interrogação, esta pode estar corretamente empregada desde que a argumentação responda à questão. Se o texto for vago, a interrogação será retórica e vazia.
  • Verifique se os argumentos são convincentes: fatos notórios ou históricos, conhecimentos geográficos, cifras aproximadas, pesquisas e informações adquiridas através de leituras e fontes culturais diversas.
  • Se considerarmos que a redação apresenta entre 20 e 30 linhas, cada parágrafo pode ser desenvolvido entre 3 e 6 linhas. Você deve ser flexível nesse número, em razão do tamanho da letra ou da continuidade de raciocínio elaborado.
  • Observe no seu texto os parágrafos prolixos ou muito curtos, bem corno os períodos muito fragmentados, que resultam numa construção primária.

  • Argumentação

    Argumentação

    Argumentar é a capacidade de relacionar fatos, teses, estudos, opiniões, problemas e possíveis soluções a fim de embasar determinado pensamento ou idéia.
    Um texto argumentativo sempre é feito visando um destinatário. O objetivo desse tipo de texto é convencer, persuadir, levar o leitor a seguir uma linha de raciocínio e a concordar com ela.
    Para que a argumentação seja convincente é necessário levar o leitor a um “beco sem saída”, onde ele seja obrigado a concordar com os argumentos expostos.
    No caso da redação, por ser um texto pequeno, há uma obrigatoriedade em ser conciso e preciso, para que o leitor possa ser levado direto ao ponto chave. Para isso é necessário que se exponha a questão ou proposta a ser discutida logo no início do texto, e a partir dela se tome uma posição, sempre de forma impessoal. O envolvimento de opiniões pessoais, além de ser terminantemente proibido em textos que serão analisados em concursos, pode comprometer a veracidade dos fatos e o poder de convencimento dos argumentos utilizados. Por exemplo, é muito mais aceitável uma afirmação de um autor renomado ou de um livro conhecido do que o simples posicionamento do redator a respeito de determinado assunto.
    Uma boa argumentação só é feita a partir de pequenas regras as quais facilmente são encontradas em textos do dia-a-dia, já que durante a nossa vida levamos um longo tempo tentando convencer as outras pessoas de que estamos certos.
    - Os argumentos devem ter um embasamento, nunca deve-se afirmar algo que não venha de estudos ou informações previamente adquiridas.
    - Os exemplos dados devem ser coerentes com a realidade, ou seja, podem até ser fictícios, mas não podem ser inverossímeis.
    - Caso haja citações de pessoas ou trechos de textos os mesmos devem ser razoavelmente confiáveis, não se pode citar qualquer pessoa.
    - Experiências que comprovem os argumentos devem ser também coerentes com a realidade.
    - Há de se imaginar sempre os questionamentos, dúvidas e pensamentos contrários dos leitores quanto à sua argumentação, para que a partir deles se possa construir melhores argumentos, fundamentados em mais estudo e pesquisa.
    Sobre a estrutura do texto
    - Deve conter uma lógica de pensamentos. Os raciocínios devem ter uma relação entre si, e um deve continuar o que o outro afirmava.
    - No início do texto deve-se apresentar o assunto e a problemática que o envolve, sempre tomando cuidado para não se contradizer.
    - Ao decorrer do texto vão sendo apresentados os argumentos propriamente ditos, junto com exemplificações e citações (se existirem).
    - No final do texto as idéias devem ser arrematadas com uma tese (a conclusão). Essa conclusão deve vir sendo prevista pelo leitor durante todo o texto, a medida que ele vai lendo e se direcionando para concordar com ela.
    A argumentação não trabalha com fatos claros e evidentes, mas sim investiga fatos que geram opiniões diversas, sempre em busca de encontrar fundamentos para localizar a opinião mais coerente.
    Não se pode, em uma argumentação, afirmar a verdade ou negar a verdade afirmada por outra pessoa. O objetivo é fazer com que o leitor concorde e não com que ele feche os olhos para possíveis contra-argumentos.
    Caso seja necessário se pode também fazer uma comparação entre vários ângulos de visão a respeito do assunto, isso poderá ajudar no processo de convencimento do leitor, pois não dará margens para contra-argumentos. Porém deve-se tomar muito cuidado para não se contradizer e para ser claro. Para isso é necessário um bom domínio do assunto.

    Há diferentes tipos de argumentos, a escolha certa consolida o texto.
    Argumentação por citação
    Sempre que queremos defender uma idéia, procuramos pessoa ‘consagradas’, que pensam como nós acerca do tema em evidência. Apresentamos no corpo de nosso texto a menção de uma informação extraída de outra fonte.
    A citação pode ser apresentada assim:
    Assim parece ser porque, para Piaget, “toda moral consiste num sistema de regras e a essência de toda moralidade deve ser procurada no respeito que o indivíduo adquire por essas regras” (Piaget, 1994, p.11). A essência da moral é o respeito às regras. A capacidade intelectual de compreender que a regra expressa uma racionalidade em si mesma equilibrada.
    O trecho citado deve estar de acordo com as idéias do texto, assim tal estratégia poderá funcionar bem.
    Argumentação por comprovação
    A sustentação da argumentação se dará a partir das informações apresentadas (dados, estatísticas, percentuais) que o acompanham. Esse recurso é explorado quando o objetivo é contestar um ponto de vista equivocado.
    Veja:
    O ministro da Educação, Cristovam Buarque, lança hoje o Mapa da Exclusão Educacional. O estudo do Inep, feito a partir de dados do IBGE e do Censo Educacional do Ministério da Educação, mostra o número de crianças de sete a catorze anos que estão fora das escolas em cada Estado.
    Segundo o mapa, no Brasil, 1,4 milhão de crianças, ou 5,5 % da população nessa faixa etária (sete a catorze anos), para a qual o ensino é obrigatório, não freqüentam as salas de aula.
    O pior índice é do Amazonas: 16,8% das crianças do estado, ou 92,8 mil, estão fora da escola. O melhor, o Distrito Federal, com apenas 2,3% (7 200) de crianças excluídas, seguido por Rio Grande do Sul, com 2,7% (39 mil) e São Paulo, com 3,2% (168,7 mil).
    (Mônica Bergamo. Folha de S. Paulo, 3.12.2003)

    Nesse tipo de citação o autor precisa de dados que demonstre sua tese.
    Argumentação por raciocínio lógico
    A criação de relações de causa e efeito é um recurso utilizado para demonstrar que uma conclusão (afirmada no texto) é necessária, e não fruto de uma interpretação pessoal que pode ser contestada.
    Para a construção de um bom texto argumentativo se faz necessário o conhecimento sobre a questão proposta, fundamentação para serem realizados com sucesso.

    sábado, 21 de março de 2009

    Ánalise do livro Triste Fim de policarpo Quaresma

    Análise da obra

    Publicado em folhetim em 1911 e em livro em 1915, Triste Fim de Policarpo Quaresma narra a vida de um modesto funcionário público em três estágios diferentes, que correspondem, mais ou menos, às três partes em que se divide a obra. A primeira parte relata sua vida comofuncionário público; a segunda, como proprietário rural; a terceira, como soldado voluntário naRevolta da Armada, de 1893.
    Paralelamente ao destino de Policarpo Quaresma, as partes deste romance focalizam o mundo carioca em três níveis diferentes e complementares: a vida simples do subúrbio, o cotidiano familiar e político da zona rural e a atmosfera política da Primeira República.
    Visões de um sonhador
    Triste Fim de Policarpo Quaresma disseca o sonho de um patriota exaltado, dominado pela idéia de um Brasil acolhedor e amável. Em seu idealismo patriótico, Policarpo Quaresma vê o país como um recanto de farturas, facilidades, compreensão e amor. Essa visão orienta o seu projeto de reforma nacional, cujo objetivo era "despertar a pátria do sono inconsciente em que jazia, ignorante de seu potencial, e conduzi-la ao merecido lugar de maior nação do mundo".

    Anote!

    Num primeiro momento, o grande sonhador prepara uma reforma cultural; num segundo, uma reforma agrícola; num terceiro, uma reforma política. Ao fim dessa caminhada ufanista, o país revela-se inóspito, precário, infecundo, cruel, opressor e odioso.
    Em outros termos, a narrativa desconstrói o mito romântico de um Brasil superior. Evidencia a distância entre o sonho e a realidade; critica o idealismo inconseqüente, incapaz de enxergar as verdadeiras dimensões do real.

    Para lembrar:

    Ao abordar o tema do patriotismo brasileiro, o romance problematiza um dos conceitos mais arraigados do caráter nacional, expondo-o ao ridículo, numa impiedosa anatomia da alma coletiva.

    1a. Um ideário pré-modernista

    Na análise do sonho patriótico de Policarpo Quaresma, Lima Barreto pôde também abordar alguns subtemas importantes para a formação do seu ideário pré-modernista como a crítica à posição negativa do brasileiro médio em relação ao colonizador europeu, a exaltação da terra, a idealização da natureza virgem, a pesquisa folclórica, a denúncia contra o preconceito social, a paródia da máquina burocrática e a ojeriza contra os falsos artistas. A sondagem do desequilíbrio de Quaresma permitiu-lhe ainda investigar com tintas fortes as alucinações, os desejos e as manias que caracterizam a loucura – retratando tanto os seus aspectos humorísticos quanto os trágicos.
    A caracterização do funcionalismo público é um dos subtemas mais interessantes do romance. O próprio Lima Barreto foi funcionário público. Por isso, pôde captar os pequenos traços que caracterizam esse tipo de serviço no Brasil, transpondo-os de forma magistral para o plano da ficção.
    Com efeito, o perfil dos funcionários públicos do romance, dos quais o mais importante é o próprio presidente da República (também caricaturado), resulta em uma interessante alegoria contra a burocracia, formada por pessoas sem consistência moral ou profissional. Nesse sentido, o livro é uma sátira impiedosa e bem-humorada contra o Brasil oficial, onde dominam generais sem batalha (Albernaz) e almirantes sem navio (Caldas).

    Estilo iconoclasta

    Do ponto de vista literário, Triste Fim de Policarpo Quaresma é um dos grandes herdeiros do Naturalismo em nossa Literatura, assim como Os Sertões, de Euclides da Cunha. Aliás, toda a Literatura pré-modernista recebe razoável influência da experiência realista da década de 1880. Esse é um dos fatores que explicam a perspectiva dessacralizadora e anti-romântica do livro.
    A concepção literária presente no livro é mais pessoal que a dominante no Naturalismo, que era muito presa à idéia do detalhe científico e da preferência patológica. Por ser muito pessoal, este romance transmite uma forte impressão da realidade, sem se prender muito aos preceitos do Realismo. Apesar disso, Lima Barreto ainda trabalha com o conceito de Literatura como instrumento de denúncia social, o que às vezes assume tonalidades panfletárias. Isto é, em alguns passos, o narrador toma o partido dos oprimidos, colocando-se francamente contra os opressores. Essa idéia de arte engajada na defesa de princípios humanitários pode ser exemplificada pelos ataques contra o positivismo republicano e pela defesa da massa sofredora, presentes no último capítulo da segunda parte e, de modo geral, em toda a terceira parte. Outro exemplo de engajamento social é a descrição afetuosa das pessoas humildes, quer nos subúrbios cariocas (início do capítulo II, segunda parte), quer na roça (capítulo IV, terceira parte). No primeiro caso, trata-se da descrição do bairro em que mora Ricardo Coração dos Outros, um dos personagens importantes do romance. No segundo, trata-se do esboço moral de personagens secundários, moradores do sítio de Quaresma. Nos dois casos, deve-se notar o propósito de uma Literatura empenhada no registro objetivo e simples da realidade brasileira, com destaque para os seus contrastes e suas desigualdades

    Para lembrar

    O diagnóstico dos dois "Brasis", o rico e o pobre, é uma obsessão na ficção do Pré Modernismo, do qual este romance é uma das maiores expressões.
    Uma linguagem despojada
    A descontração do estilo é outra característica importante de Triste Fim de Policarpo Quaresma, que incorpora vocábulos e frases espontâneas, próprios da linguagem oral ou jornalística. O estilo simples da narrativa corresponde ao ideal de objetividade do autor, que se entende pelo respeito do artista às dimensões do objeto retratado, sendo compatível com o foco narrativo em terceira pessoa onisciente.

    Anote!

    A vida carioca é transposta para as páginas deste romance com extrema simplicidade e realismo, captada em diversos níveis: o subúrbio, a burocracia, a vida rural e a política de 1890.
    Há uma passagem em Triste Fim de Policarpo Quaresma que define com clareza o ideal estético de Lima Barreto, baseado na frase comum de expressão espontânea e natural. A situação dessa passagem é a seguinte: Armando Borges, um médico sem talento nem convicção científica, dava-se ao trabalho de compilar noções de Medicina em artigos recheados de expressões eruditas, que ele copiava dos clássicos, sem assimilar ou entender, somente para obter prestígio. Ao caracterizar esse pseudo-escritor, Lima Barreto cria uma vigorosa caricatura do estilo artificial de nossa Belle Époque (personificada em Rui Barbosa, Coelho Neto, Afrânio Peixoto, Alberto de Oliveira), que ele decididamente evitava: "De fato, ele estava escrevendo ou mais particularmente: traduzia para o 'clássico' um grande artigo sobre 'Ferimentos por armas de fogo'. O seu último truque intelectual era este do clássico. Buscava nisto uma distinção, uma separação intelectual desses meninos por aí que escrevem contos e romances nos jornais. Ele, um sábio, e sobretudo um doutor: não podia escrever da mesma forma que eles. A sua sabedoria superior e o seu título 'acadêmico' não podiam usar da mesma língua, dos mesmos modismos, da mesma sintaxe que esses poetastros e literatos. Veio-lhe então a idéia do clássico. O processo era simples: escrevia do modo comum, com as palavras e o jeito de hoje, em seguida invertia as orações, picava o período com vírgulas e substituía incomodar por molestar, ao redor por derredor, isto por esto, quão grande ou tão grande por quamanho, sarapintava tudo de ao invés, empós, e assim obtinha o seu estilo clássico que começava a causar admiração aos seus pares e ao público em geral."

    Para lembrar

    Esse fragmento (do capítulo 1, terceira parte) não apenas ridiculariza os escritores "difíceis" do final do século, mas também revela a intenção de uma escrita "fácil", baseada na espontaneidade da fala cotidiana e da reportagem jornalística.
    Ao caricaturar o artificialismo literário de seu tempo, Lima Barreto escreve de forma descontraída e informal. Nesse sentido, Triste Fim de Policarpo Quaresma contribui para a simplicidade estilística dos artistas modernistas da Semana de 1922, que também apreciavam a soltura e a descontração da frase, em cenas rápidas do cotidiano dos grandes centros. De fato, esse romance ensinou ao Modernismo como captar de maneira viva a agitação das ruas do Rio de Janeiro. Nele, agitam-se, numa escrita dinâmica e incisiva, as várias camadas da população: o burocrata, o escriturário, os moleques, os oficiais, os soldados, o imigrante, a dona de casa, a moça preocupada com a moda, o seresteiro, a ex-escrava, os trabalhadores.

    As reformas de Quaresma

    As três partes de Triste Fim de Policarpo Quaresma correspondem à aplicação das grandes reformas propostas pelo personagem principal para salvar o Brasil
    4a. A reforma pela cultura
    Relata a vida de Quaresma como funcionário público. Homem de hábitos arraigados e conservadores, Quaresma era solteirão e vivia com sua irmã Adelaide num bairro do Rio de Janeiro. Além de dedicado ao serviço público, era patriota exaltado e possuía uma biblioteca só com obras sobre o Brasil. De repente, viu-se assaltado por uma obsessão: salvar o país por meio de uma reforma nos costumes.

    Para lembrar

    Quaresma pensava que o homem do Brasil deveria se expressar como os primitivos tupinambás, e não como os europeus. Por isso, pôs-se a estudar o folclore e o tupi-guarani. Em pouco tempo, pretendeu substituir o idioma português pela língua dos primitivos habitantes da terra, chegando ao extremo de redigir documentos oficiais em tupi.
    Essa aventura acabou por metê-lo num sanatório. Nessa altura da vida, Quaresma vivia rodeado por funcionários públicos sem consistência moral ou profissional. O conjunto dessas pessoas forma uma verdadeira alegoria contra o funcionalismo público, uma sátira impiedosa e bem-humorada: o general Albernaz, cuja filha Ismênia tem um fim trágico, por causa da indecisão do eterno noivo Cavalcanti; o contra-almirante Caldas, a quem foi dado comandar um navio inexistente; o major Bustamante, cuja preocupação central era conhecer a legislação que regeria sua aposentadoria. Dentre todos os amigos de Quaresma, apenas um se salva, pela sinceridade e força do talento: Ricardo Coração dos Outros, violeiro simpático que lhe dava lições de violão. E esse, por ser humilde, era desprezado pelos demais, que formavam a "aristocracia do subúrbio".

    4b. A reforma pela agricultura

    Ao sair do hospício, Quaresma já não pensava em reformar os costumes nacionais. Agora, acredita que a solução para os males do Brasil adviria de uma reforma na agricultura. Muda-se, então, para o Sítio Sossego e, depois de importar revistas e maquinários agrícolas, incumbe-se da missão de demonstrar aos compatriotas que a melhor terra do mundo é o Brasil. Em pouco tempo, é vencido pela má qualidade do solo, pelas saúvas e pela mesquinharia da política local. Depois de perder tudo o que investira, resolve voltar ao Rio de Janeiro para salvar o Brasil do perigo representado pela Revolta da Armada, que então eclodira na capital do país.

    4c. A reforma pela política

    No Rio de Janeiro, Quarema alista-se no Exército, a favor de Floriano Peixoto, comandando um batalhão de 40 soldados. Nessa altura, está empenhado nas reformas políticas do florianismo, pelas quais se alista na batalha. Obtém uma entrevista com o presidente da República, mas sai absolutamente decepcionado com a figura displicente e preguiçosa do líder. Abafada a revolta, é enviado para a Ilha das Enxadas, com a função de carcereiro. Nessa ilha, estavam os prisioneiros de guerra, ex-membros da Marinha. Uma noite, diversos prisioneiros são levados para sumário fuzilamento por ordem expressa de Floriano Peixoto. Quando Quaresma toma consciência da manobra, redige uma carta de censura ao presidente, exigindo dele que se respeitassem os direitos humanos dos rebeldes. Em conseqüência de sua carta, o grande florianista é preso e enviado para a Ilha das Cobras. Teria o mesmo fim dos prisioneiros por cujos direitos protestara.